terça-feira, 13 de outubro de 2009

Resgate

O recontar da história do Solar do Colégio

Construído em meados do século XVII por padres da Companhia de Jesus e arremata do pelo comerciante Joaquim Vicente dos Reis um século mais tarde, o prédio denominado Solar do Colégio, e que hoje abriga o Arquivo Público Municipal, é o mais antigo prédio ainda sólido da região. Tombado pelo Patrimônio Histórico em 1946 e desapropriado pelo Governo do Estado em 1977, guarda em suas paredes muito da história de Campos dos Goytacazes.
Com o intuito de resgatar a história de tão importante prédio, foi iniciado em meados de 2008, no Arquivo Público Municipal de Campos, o projeto intitulado “Memória do Solar”.
Neste, buscou-se informações, até então dúbias, acerca da chegada dos jesuítas na região, sua expulsão e posterior influência da família Barroso.
Assim é que se percebeu que com a missão de catequizar os índios e evitar as guerras, os padres da Companhia de Jesus se estabeleceram na região desde princípios do século XVII. No ano de 1619 partindo em missão, formaram uma aldeia de índios no atual distrito de Tocos (lagoa Carioca). Data de 1652 a construção da primeira igreja dos jesuítas em Campos, na região de Campo Limpo, sob a invocação de São Pedro. A data de construção do Solar é, no entanto, muito questionada. Podemos estabelecer que foi realizada entre os anos de 1652 a 1716, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição e Santo Inácio.
Expulsos os jesuítas do Brasil no ano de 1759, a Fazenda do Solar do Colégio foi arrematada pelo comerciante português Joaquim Vicente dos Reis no ano de 1781. Este casou-se com Josefa Bernardina e teve oito filhos, dos quais só sobreviveram três mulheres. Deixou o Solar do Colégio para seu genro, Sebastião Gomes Barroso, casado com sua segunda filha Ana Bernardina. São estes que dão início ao legado da Família Barroso na posse do prédio, que durará até o ano de 1980 com a morte de seu último ocupante, João Batista Viana Barroso, o sinhô Barroso. Seus moradores ficaram conhecidos pelas boas obras feitas na cidade e, principalmente na baixada.
Através de um extenso levantamento bibliográfico e documental, foi possível constatar que a Fazenda do Solar do Colégio abrigou o primeiro hospital da região e, que o prédio tinha na verdade o dobro do tamanho, isto é, uma ala de mora-dia ao lado direito. Além disso, o Solar do Colégio abrigou também uma escola que servia para alfabetizar os filhos dos trabalhadores e dos moradores daquele entorno, uma cerâmica, construída pelos jesuítas, engenho e Usina. Na capela do Solar estão enterrados a heroína campista Benta Pereira, familiares, padres e amigos.
Funcionando no século XIX como uma das melhores e mais moderna usinas da região, muito se divulgou acerca da quantidade de escravos que pertenciam à Fazenda. Foi possível confirmar que, quando do tombo das terras dos jesuítas, foram arrolados cerca de 1200 escravos. Através do inventário de Joaquim Vivente dos Reis verificou-se que a Fazendo contava já com cerca de 1400 escravos, quantidade essa que mostra o poder da Fazenda e da família.
Após o levantamento bibliográfico, iniciou-se um trabalho de entrevistas com pessoas que, de alguma maneira, tiveram sua história ligada ao prédio ou à família, como ex-trabalhadores, amigos e familiares.
Das muitas pessoas que foram entrevistadas, destacam-se as figuras da senhora Gilda
Wagner, afilhada de João Batista,do senhor Getúlio, que prestou seus serviços à fazenda durante 53 anos, e da senhora Magali que foi cozinheira, e moradora do solar, e hoje é possuidora de um livro de receitas manuscrito que ganhou de presente da senhora Estela Viana Barroso.
Desapropriado pelo governo do Estado na década de 70, resistiu seu último morador, o Sinhô Barroso, até o ano de 1980, ano de sua morte. A partir de então, o prédio foi abandonado e passou a sofrer com os danos causados pelo tempo e pelas constantes depredações. A capela, de interior barroco, adornada em ouro, foi completamente destruída e, mesmo as lápides foram saqueadas, na esperança de se encontrar ouro ou dinheiro enterrado junto aos familiares. Em 1991 o prédio sofreu restauração para que fosse implantada a escola de cinema, projeto de Darcy Ribeiro, sofrendo posteriormente novo abandono. Em 2001 foi implantando no lugar o Arquivo Público Municipal.

Como resultado primeiro desse projeto, inaugurou-se no dia 18 de maio de 2009 a Exposição Memória do Solar. Nesta, inúmeras fotos do prédio foram expostas, bem como objetos que pertenceram ao interior da capela e da casa. O projeto busca ainda produzir um documentário com o conteúdo das entrevistas e, por fim, lançar uma publicação com o conteúdo das descobertas. Atualmente o projeto é desenvolvido pelas pesquisadoras Rafaela Machado e Larissa Manhães e está aberto aos que queiram colaborar.

Rafaela Machado e Larissa Manhães

Encontro

Núcleo de Pesquisa realiza o seu 2º encontro

No dia 13 de agosto, realizou-se, no auditório da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, a segunda reunião do Núcleo de Pesquisa em História Regional (NUPEHR). Nela, foi discutido o estatuto do Núcleo e definida a participação dos pesquisadores nas seguintes linhas de pesquisa: Linha 1: Agricultura Comércio e Indústria; Linha 2: Saúde, Urbanismo e Aspectos Legais da Sociedade; Linha 3: Cultura e Sociedade; Linha 4: Patrimônio Material e Imaterial e Linha 5: Espaço Geográfico.

O Núcleo de Pesquisa em História Regional é aberto a todos que se interessam pela História do Norte Fluminense independente de qualquer ligação acadêmica. Aos interessados, favor entrar em contato através do email:pesquisa@arquivode campos.org.br


Cristiano Pluhar

Saiba como aumentar a vida útil de seus livros


Você sabia que manter seus livros em ambiente estável e limpo aumenta a vida útil deles? Isso mesmo, observando o ambiente onde se armazena seus livros faz uma grande diferença, pois onde o calor é muito intenso acaba acelerando as reações químicas nas fibras das folhas de papel, levando à deterioração, como também os altos níveis de umidade relativa do ar fornecem meios necessários para promover reações químicas danosas junto com a proliferação de mofos e insetos. As oscilações de temperatura, ora alta ora baixa, causam um efeito de expansão e retração das fibras do papel acelerando sua deterioração.
A limpeza também deve ser feita não só no ambiente, mas também in loco de acordo com a freqüência de acúmulo de poeira nas prateleiras e livros de sua estante. Usando uma flanela para limpar as estantes com agente de secagem rápida que não precise de mistura com água, caso contrário, verificar a total secagem das prateleiras antes da recolocação dos livros evitando o contato com a umidade. A higienização de livros deve ser feita com trincha de cerdas macias, passando-a levemente página por página do livro frente e verso das folhas, jogando a poeira pra frente do seu corpo evitando o contato com a poeira; o ideal é que a higienização seja feita num lugar ventilado e amplo caso o livro esteja muito empoeirado e/ou com proliferação de fungos, usar luvas e máscaras descartáveis.


  • Gabriela Cruz Pimentel

  • Gordiano Henrique da Penha

Fatos históricos e curiosidades campistas

  • Em Campos recebia seu primeiro espetáculo Teatral, representado no Theatro São Salvador.

  • No dia 8 de setembro de 1845, nascia em Campos dos Goytacazes, Julio Feydit; filho de D. Josefa Pinheiro de Jesús Feydit e neto paterno de José Feydit e Estel Couchuin, natu rais da França. Campista ilustre, chegou a ser prefeito. Dedicava-se a pesquisas em jornais e no arquivo da Câmara Municipal. sobre a história local, deixando entre outros legados, o livro “Sub-sídios para a História dos Campos dos Goytacazes”.

  • No dia 7 de setembro de 1851, ocorreu uma grande obra de distribuição de águas; na ocasião o uso contínuo das carroças de água foi extinto.

  • No Rio de Janeiro, em 09 de setembro de 1854, a Câmara Municipal em sessão extraordinária, reuniu-se para tratar do levantamento de uma estátua em memória do imperador D. Pedro I, na Praça da Constituição.

  • Em 26, de setembro de 1854 o jornal Monitor Campista publicou uma reportagem sobre um preto de nome Felix, da nação Mina, estabelecido no Rio de Janeiro, que resistindo à sua transferência para Campos, trancou-se em um cômodo com uma machadinha. Contudo, as autoridades policiais o mataram com um tiro.

  • Em 6 de setembro de 1874 era inaugurado em Campos, o Theatro Empyreo Dramático, construído sob a direção de João Gil Ribas. Lá aconteciam conferências abolicionistas e, por tal motivo, foi fechado pelo delegado que alegava que o Theatro oferecia perigo aos espectadores. Após pequenos reparos foi reaberto e as conferências continuaram com maior vigor.


    Alcilei Machado e Luciano Santana

Poesia

Cedo da manhã ela levanta e vai comer biscoito de 4 reais e 15 centavos.
Eu permaneço imóvel na cama torcendo para pegar no sono. Consigo por pouco tempo.
Ao me levantar coloco uma música boa de verdade e ela fala que "não está para música". Como eu sou um cara muito bacana com ela, peço somente uma música e desligo a sonoridade.
Instantes depois ela, toda animada, começa a cantar.Discrepância feminina.


Cristiano Pluhar
nadacult.blogspot.com

Receitas da Fazenda do Solar do Colégio

Bolos de Mãe-benta
"Setecentos gramas de farinha de arroz, trezentos e quarenta e cinco ditas de assucar refi-nado, idem de manteiga fina, doze gemmas d' ovos e um cálice cognac. Lava-se o arroz em duas ou três aguas, escorre-se e faz-se enxugar ao sol em uma peneira, quando estiver secco deita-se em uma almofariz e soca-se bem até que fique redusido a farinha a qual passa-se por peneira de seda e poe-se ao sol para seccar. Deita-se a farinha de arroz em um alguidar, mistura-se com o assucar e junta-se a manteiga bem lavada e escorrida, mexe-se com colher de pau até ficar bem ligada, depois junta-se as gemas d' ovos com a massa e leva-se a cozinhar em forno regular."

Croquettes de Galinha
"Toma-se uma galinha cosida, tirase logo os oss-sos, pica-se bm e deixa-se de parte. Poe-se em uma cassarola uma pequena quantidade de manteiga, um pouco de cebolla e um dente de alho, deixa-se ferver alguns minutos e engrossa-se com farinha de trigo até ficar uma massa em consistencia regular, leva-se ao fogo e deita se 4 ou 6 gemmas, mistu-rando-se até ligar e leva-se novamente ao fogo para cosinhar um pouco, tendo a cuidado de mexer para não pegar no fundo. Em seguida despeja-se numa mesa de mármore para esfriar, quando estiver frio, divide-se em pedacinhos que róla-se sobre mesa de forma que fique da grossura de um dedo, povilhase com farinha de rosca e frita-se na banha quente."

Palavras soltas

Os Morcegos e as Formigas



Havia em uma certa região uma mansão que num passado um pouco distante era próspera e bela fazenda. Esse prédio depois de uma boa reforma, passou a ser um depósito de cultura para aquele local e adjacências.
Nesse prédio foram trabalhar diversas pessoas que se incumbiram de organizar o estabelecimento para guardar informações sobre forma de documentos, tais como: inventários de outros séculos passados. Nesse solar existem várias salas, corredores longos com suas janelas antigas clareando os ambientes e até uma igrejinha que com o decorrer do tempo só restou o prédio, sendo que os altares com os santos e demais objetos foram levados pelos admiradores da arte antiga.
Nos dias atuais, as labutadoras formigas continuarão no seu mister de preservar todo o material para estudo e informação que é destinado ao seu Arquivo.
Enquanto os morcegos continuam no seu antigo ofício com vôos rasantes pelos corredores e demais dependências, em ritmo de festas a comemorar o tempo passado e o presente do fabuloso casarão.



Antonio Sérgio

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Editorial


Iniciamos a edição do Boletim da ACAP com o objetivo de divulgar e incentivar a produção teórica e as atividades desenvolvidas no âmbito do Arquivo Público. Esse formato de difusão de textos e mais informações, por menores que sejam, distribuídas aos interessados em participar de discussões teórico conceituais sobre a Região Norte-Fluminense, vem ampliar a participação de mais pessoas que tem por objetivo focar seu olhar sobre algum aspecto.
Acreditamos que poderemos expandir e aprofundar o debate no enfoque da problemática regional, através do intercâmbio de textos e a troca de experiências. Pretendemos levantar questões que abordem fundamentalmente a Região, o Arquivo e as atividades técnicas nele desenvolvidas. Um veículo para divulgar as pesquisas sobre a Região que estiverem sendo desenvolvidas e também novas aquisições de documentos. Tudo o que puder contribuir para as discussões e ainda, para a formação de novos profissionais.
Acreditamos que essa publicação venha a ser de grande utilidade para pesquisadores e estudiosos da Região, especialmente agora com a formação do Núcleo de Pesquisa em História Regional. Que esse primeiro número do Boletim seja o instrumento que desencadeie novos textos e observações.
Convidamos aos colegas da área, a dar continuidade ao trabalho de reflexão e comunicação de suas experiências. A participação de cada um poderá se dar através de comentários aos textos publicados ou elaborando textos originais sobre suas pesquisas,observando-se sempre, padrões de abordagem técnica. Dedicamos esse número às pessoas que atualmente trabalham no Arquivo, bem como,aos que, desde o início de suas atividades em 2001, deram sua contribuição para a preservação da memória documental.


Carlos Roberto Bastos Freitas

Arquivo Público recebe historiador francês

Opúsculo que foi a fonte inicial da pesquisa


A imigração francesa na região Norte Fluminense, no Século XIX, continua despertando o interesse de historia-dores internacionais. Por isso, o Arquivo Público recebeu no início do mês de agosto, Laurent Vidal, acompanhado da geógrafa Maria Isabel. O historiador francês destacou a importância regional no com texto franco-brasileiro.
Na transição do Império para a República, apenas 10 mil franceses tinham registro no Consulado. Mas a presença deles na região, é citada, por exemplo, no opúsculo “Colonia do Vallão dos Veados”, publicado em 1853. A obra serviu de referência para a pesquisa que está sendo desenvolvida por Laurent Vidal.
No Vallão dos Veados, Freguezia de São Fidélis, pertencente ao município de Campos, viviam 33 franceses,ao lado de 13 belgas, sete alemães, cinco espanhóis, dois italianos e 178 portugueses,produzindo cana, café, mandioca, milho, feijão e arroz. Dessa comunidade, alguns franceses ilustres, como Miguel Alamir Baglione, natural de Paris, que escreveu no jornal Monitor Campista artigos sobre os males que afetavam a sociedade. Além de ter seu nome citado pelo viajante Saint-Hilaire, que constatou a diferença de tratamento dado aos negros escravizados pelo francês.
Na obra Viagem pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil, Saint Hilaire cita que no início do Século XIX, haviam escravos que recebiam semanalmente retribuição proporcional ao trabalho e à inteligência de cada um deles.
Há, também, Julio Feydit, descendente de franceses que se tornou um dos mais importantes pesquisadores da história regional, sendo um dos primeiros prefeitos de Campos dos Goytacazes.


Cristiano Pluhar